Nesta última sexta-feira, dia 10, a APEOESP deu por
encerrada a greve que teve início no dia 22 de abril. Os líderes sindicais
foram hostilizados pelos que defendiam sua manutenção e o ato terminou em
pancadaria.
Grande parte da sociedade mostrou-se contra a
paralisação. Mas será que as pessoas realmente sabem que motivos os levaram a
tomar uma decisão tão radical como a greve? Quais são suas principais
reivindicações? E qual é a qualidade da educação que vem sendo oferecida aos
alunos?
O blog “SOS Educação Peruibe” decidiu dar voz aos
professores! Confira abaixo uma entrevista feita três educadores do estado de
SP, que revela suas posições no que diz respeito a condições de trabalho,
salário, material pedagógico, entre outros.
ENTREVISTA COM
PREFESSORES GREVISTAS;
Prof° 1: A., leciona Geografia em Jales, SP
Prof° 2: A. B., leciona Artes em Lorena, SP
Prof° 3: C., leciona Matemática em Presidente Prudente, SP
1.
Paralisação
1a. Objetivos: A paralisação tem por objetivos decidir sobre uma
possível greve por tempo indeterminado, a partir de 22/04/2013, e chamar a
atenção da sociedade sobre as condições salariais dos professores e sobre os
problemas atuais das escolas e da educação no Estado de São Paulo.
1b. Motivos:
O governo do Estado de São Paulo
se recusa a atender as reivindicações dos professores, e descumpre a
Constituição e leis federais aplicadas à educação.
1c. Empecilhos para a paralisação:
·
Ameaça de
demissão a professores “categoria O” e àqueles em estágio probatório;
·
Campanha
caluniosa nas mídias, sobre as condições e a qualidade da educação no Estado de
São Paulo;
·
E-mail
enviado aos professores caluniando o sindicato e exaltando umas reuniões em que
nada se resolve, e às quais nem o secretário da educação comparece.
2. Reivindicações
·
Reposição
das perdas salariais (não se pede aumento de salário);
·
Cumprimento
real da Lei do Piso (lei federal);
·
Construção
de escolas, a fim de reduzir o número de alunos por sala de aula, atendendo a
resolução do Conselho Estadual de Educação;
·
Melhorias
nas condições físicas das escolas (manutenção e reformas);
·
Fim da
“progressão continuada” (que em São Paulo funciona como “promoção automática”);
·
Fim do
contrato temporário de trabalho para professores substitutos (contratar pela
CLT);
·
Fim do
sistema de bônus aos professores (incluir o bônus no salário);
·
Realização
de concursos públicos para a contratação de professores, de acordo com a
Constituição Federal;
·
Fim da
meritocracia e aprovação do Plano de Carreira do Magistério Paulista
1ª pergunta: Qual é sua opinião sobre o material
pedagógico oferecido aos professores da Rede Estadual de Educação do Estado de
São Paulo?
Prof. 1: “A
qualidade é péssima. Sou professor de geografia, e as apostilas têm muitos
erros, inclusive nos mapas e nas tabelas. As atividades e os exercícios são mal
planejados e a maioria não ensina o que deveria ensinar. O conteúdo das
apostilas é muito fraco e não nos permite aprofundar os alunos no conhecimento.
As apostilas só colaboram para a piora da educação.”
Prof. 2: “Você
quer dizer as apostilas? Porque têm livros muito bons, mas não chegam para
todos os alunos. Agora, as apostilas: impossível usar. São muito ruins.”
Prof. 3: “A
Diretoria Regional da Educação nos obriga a seguir a apostilinha do Estado.
Isso é uma pena, porque elas são fracas. Há livros muito melhores, mas não
podemos usar. Inclusive estou sabendo de um professor da minha região que está
sendo processado (processo administrativo) porque não estava usando a apostila
e o diretor da escola denunciou.”
2ª pergunta: O que você pensa da escola em tempo
integral?
Prof. 1: “A ideia
é excelente, mas do modo como estão sendo implantadas não vai funcionar. A
escola integral deveria ter atividades para os alunos em tempo integral. E
atividades diferentes de aulas. Os alunos deveriam aprender a tocar um
instrumento musical, praticar esportes, ter aulas de teatro e de dança.
Deveriam até aprender atividades práticas para a vida, como cozinhar e pintar
paredes, mas não é isso o que se vê. Se vê os alunos presos na escola o dia
inteiro sem ter o que fazer. Muitos alunos pedem transferência quando percebem
o que está acontecendo. É mais uma boa ideia que não está sendo bem
implementada.”
Prof. 2: “Nunca
vi uma que desse certo.”
Prof. 3: “É uma
brincadeira o que estão fazendo com os professores. Mais uma medida ditatorial
do governo de São Paulo. Professor efetivo, concursado, perdendo o vínculo com
a escola? Isso é um absurdo. O pior é que tem professor iludido com o aumento
no salário que está embarcando nessa.”
3ª pergunta: Por que os professores não são
valorizados?
Prof. 1: “Esse já
é um problema cultural. A sociedade brasileira deixou de valorizar a educação.
Antigamente, você perguntava para um pai de família o que era mais importante
para a família dele, e a resposta era em primeiro lugar a educação dos filhos.
Isso porque a educação não era para todos. Não havia vagas para todo mundo,
então valorizava-se mais. Hoje, com a universalização da educação, não se dá
mais a devida importância nem para a educação e nem para os professores. Os
pais que valorizam a educação colocam os filhos em escolas particulares.”
Prof. 2: “Porque
para os políticos não é interessante valorizar a educação. Um povo burro é mais
fácil de ser enganado e roubado. O governo não quer criar cidadãos críticos
para não se eleger mais depois.”
Prof. 3: “A culpa
principal é do governo e das políticas públicas para a educação e para os
professores. Com um salário indigno, o professor despencou de classe social,
enquanto os trabalhadores subiram de classe. Na visão neoliberal, que é a
nossa, valoriza-se quem tem dinheiro. O
professor não tem dinheiro e, por isso, é desvalorizado.”
Pergunta 4: E a progressão continuada?
Prof. 1: “É uma
tendência mundial. Hoje em dia não se concebe mais que um aluno de 14 anos
esteja no 6º ano, junto com um de 11. Essa situação é desestimulante para o
aluno mais velho, que tenderá a abandonar a escola. A progressão continuada
deveria vir atrelada com aulas de reforço para os alunos que apresentarem
defasagem de aprendizado. Mas essas aulas de reforço teriam que ser no contra-turno,
o que é impossível nas escolas estaduais, que têm todas as salas ocupadas em
todos os turnos. Então, sem o reforço, a progressão continuada se transforma em
promoção automática. Isso descaracteriza a progressão.”
Prof. 2: “É a
maior vergonha do Brasil. Os alunos passam de ano sem saber nada. Tem aluno que
nem abre o caderno, e mesmo assim vai passar de ano.”
Prof. 3: “É muito
desestimulante para o aluno que estuda. Ele vê o colega que não faz nada passar
de ano e pensa: - Se ele passou sem estudar, por que eu vou estudar? – O
governo instituiu a meritocracia para os professores, mas o sistema de mérito
não vale para o aluno. Passar de ano deveria ser a recompensa pelo estudo, e
não automático. O aluno passa porque merece.”
Nossos
agradecimentos aos professores que colaboraram.
Alana Davies Moura
Ana Paula Gomes
Camila Franco
George Colantônio
Gustavo Gabriel
Muito boa a entrevista! Isso mostra que vocês realmente querem fazer um trabalho sério, parabéns, a nossa sociedade precisa de mais cidadãos conscientes como vcs.
ResponderExcluirObrigada pelos elogios!!
ExcluirEstamos sempre nos esforçando para fazer o nosso melhor e seu reconhecimento é muito importante para nós!!
Um abraço!
Assista ao documentário gravado por Dr.Valdecy Alves em que debate as principais violações à Lei do Piso do professor, Lei Federal nº 11738/2008, gravado na manhã de 06/03/2014. Além da análise de cada uma das violações desde 2008, demonstra as principais fraudes praticadas contra direitos dos professores contidos na lei e da educação de qualidade. http://valdecyalves.blogspot.com.br/2014/03/documentario-sobre-lei-do-piso-violada.html
ResponderExcluir